terça-feira, agosto 21, 2007

Epistemologia e Teoria Política em John Locke

John Locke investiga no Ensaio sobre o Entendimento Humano o modo como o homem adquire conhecimento das coisas, no intuito de estudar seu comportamento. A teoria do conhecimento de Locke é marcada por uma peculiar relação entre racionalismo e empirismo. Sua concepção de lei natural parte da convicção de que o universo pode ser compreendido racionalmente, mas também sugere que tal empresa somente é possível a partir da experiência. Adotando o argumento do maker’s knowledge, em que só podemos conhecer aquilo que criamos, para Locke não há uma ciência natural, pois se podemos conhecer a matemática e a moral por meio de suas causas, é estritamente pelos efeitos que conhecemos a natureza.

Com sua famosa assertiva de que a alma é uma tabula rasa, Locke se afasta da tradição cartesiana de que as idéias são inatas, considerando-as como tudo o que se pensa ou se percebe a partir da vivência. As percepções são sensações, que podem gerar reflexões. As idéias simples surgem diretamente dos sentidos e da reflexão, enquanto as idéias complexas resultam da atividade da mente, por associação das idéias simples, e se fundam na memória. Dessa forma, todas as idéias, inclusive a de substância e a própria idéia de Deus, procedem da experiência, mediante sucessivas abstrações e associações. O empirismo de Locke limita a possibilidade de conhecer, iniciando uma desconfiança em relação à faculdade cognoscitiva que culmina no ceticismo de David Hume*.

Pode-se buscar complementaridade entre o Ensaio e os Dois Tratados sobre o Governo, entre a filosofia e a política na obra de Locke. No entanto, ele próprio se empenhou para que fossem consideradas em separado, aplicando à sua teoria política um hábil e bem-sucedido método empírico, baseado no senso comum**. Locke busca um fundamento para o poder legítimo para refutar o argumento teológico de Sir Robert Filmer, rejeitando seu patriarcalismo e sua defesa do absolutismo monárquico. Partindo do estado de natureza de Hobbes, Locke assume a racionalidade como o diferencial que elimina o estado de guerra, a possibilidade da morte violenta, permitindo a coordenação dos direitos políticos e a garantia da liberdade.

Já escrevi, com outra finalidade, a respeito da teoria política em John Locke.

* MARÍAS, Julián. (2004). História da Filosofia. São Paulo: Martins Fontes.
** LASLETT, Peter. (2001). “Introdução”. In: LOCKE, John. Dois Tratados sobre o Governo. São Paulo: Martins Fontes, pp. 1-179.

3 comentários:

Unknown disse...

OI Tio Gabriel!
Deixo aqui um beijinho especial pra vc e aguardo seus comentários sempre tão interessantes no meu blog tb.
Beijo com saudade da sua sobrinha
Luiza

Anônimo disse...

Grande Barba,

Esse blog tá mesmo que é pura erudição! John Locke e o maker's knowledge de Mike Tyson... sensacional!
Não gosto muito de escrever, mas pode crer que vou ler bastante!
Aquele abraço,
P.C.

Gabriel Filártiga disse...

Luluzinha, um beijão do titio.

Cástor, um b...ops! Um grande abraço, volte sempre e comente!

Gabriel Filártiga.