quarta-feira, outubro 31, 2007

"Rationality will not save us"

Acabei de assistir ao excelente documentário "Sob a Névoa da Guerra": uma entrevista admirável, sincera e contundente com Robert McNamara, o Secretário de Defesa de John Kennedy e Lyndon Johnson. Trata-se de uma seqüência de 11 lições de uma vida marcada pela guerra, desde 1916, de um homem que escreveu parte da história da Cold War.

Apesar de ter passado 7 anos no comando da Guerra do Vietnã, acho que a principal lição que McNamara aprendeu foi a da Crise dos Mísseis em Cuba, a de #2: Rationality will not save us. Formado na tradição racional, matemática, obsessivo na maximização da eficiência, ele admite que a solução da crise foi um golpe de sorte.

A URSS enviou 2 mensagens ao Pentágono, uma suave e outra ameaçadora. A ambigüidade, vale dizer, é um importente recurso de dissuasão. O ex-embaixador dos EUA em Moscou, com base em sua relação pessoal com Kruschev, concluiu que a primeira era a do líder soviético, e a segunda uma provocação dos belicistas linha-dura. Kennedy enviou uma resposta para aquela de tom suave.

McNamara ressalta que, apesar de Kennedy, Kruschev e Fidel serem agentes racionais, a racionalidade tem limites na guerra, e aquela crise poderia ter seguido um rumo fatal. Fidel confirmou isto a ele, pessoalmente, depois. Racionalidade, em tempo de guerra, pode ser somente body count.

Vou escrever, em seguida, sobre os limites e aplicações da Teoria da Escolha Racional, ou Rational Choice.

domingo, outubro 28, 2007

Amália



Maldição

Que destino, ou maldição
Manda em nós, meu coração?
Um do outro assim perdido,
Somos dois gritos calados,
Dois fados desencontrados,
Dois amantes desunidos.

Ah! Gelada solidão,
Que tu me dás coração,
Não é vida nem é morte:
É lucidez, desatino,
De ler no próprio destino
sem poder mudar-lhe a sorte...

sexta-feira, outubro 26, 2007

A res publica


O Professor Eduardo Gomes fez uma interessante observação a respeito de uma das fotos de Mônica Veloso na Playboy:

"Intencionalmente – ou não –, a foto de Mônica sentada de frente para as costas de uma cadeira é uma imitação quase perfeita da famosa fotografia de Christine Keeler, uma showgirl que foi o pivô de um escândalo que aconteceu na Inglaterra no começo dos anos 1960, em plena Guerra Fria. O então secretário de Defesa, John Profumo, começara um relacionamento extraconjugal com Christine, que também mantinha um relacionamento com um adido naval soviético de alto nível – o que não poderia ser mais perturbador naquela época. Depois desses fatos terem sido trazidos a público, Profumo renunciou ao cargo – e a seu mandato legislativo, uma vez que era membro da Câmara dos Comuns e uma das evidências da ligação entre os dois foi a dita fotografia, supostamente batida por Profumo."
Profumo foi, supostamente, um excelente fotógrafo. J. R. Duran, obviamente, o é.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Blindness

Eu gostei de "Cidade de Deus" e de "O Jardineiro Fiel". Não sei muito bem como eu cheguei lá, mas há 2 minutos eu acabei de ler o blog do Fernando Meirelles sobre as filmagens de Blindness. Você sabe, o "Ensaio sobre a cegueira", do Saramago, que ele está filmando. A melhor parte é o jantar com o escritor, na referência ao Cão das Lágrimas.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Polanyi x Hayek

Se eu fizesse um levantamento do livro mais citado em todos os textos que li, acho que A Grande Transformação: As origens da nossa época, de Karl Polanyi, seria o vencedor. De fato, trata-se de um trabalho notável, com a rara combinação de uma perspectiva socialista com algum conhecimento de economia. Polanyi se preocupa com a "destruição do tecido social" ocorrida na Revolução Industrial, cuja causa considera ter sido a idéia de mercado auto-regulável. Seu mérito está em diagnosticar o problema do ritmo da mudança, da "rapidez do cataclisma"[um tema já abordado por Burke e Tocqueville, cá entre nós, quando tratam da Revolução Francesa]. Ele conclui assim: "o fim da economia de mercado pode se tornar o início de uma era de liberdade sem precedentes".

Friedrich Hayek, liberal austríaco, publicou no mesmo ano de A Grande Transformação (1944) seu clássico O Caminho da Servidão. Este livro, dedicado "aos socialistas de todos os partidos", deve ter feito muita gente repensar a conclusão de Polanyi: