domingo, janeiro 21, 2007

Buchanan, Musgrave, Giannetti, Marías, Dostoiévski & Márcio Guilherme

Márcio Guilherme é um grande amigo de debates, e de longa data. Também é consultor para assuntos literários. Já liguei para ele, de dentro da livraria, para perguntar quais eram as melhores edições de um Julián Marías e de um Dostoiévski.

Há anos ele insiste que eu tenho que ler Vícios Privados, Benefícios Públicos?, do Eduardo Giannetti da Fonseca. Ele tinha razão. Estou lendo e pretendo explorar o assunto nos próximos posts.

Recentemente, ele indicou o blog Marginal Revolution. Ontem encontrei lá um debate entre James Buchanan e Richard Musgrave: Two Contrasting Visions of the State. As horas de vídeo e os semblantes acadêmicos na platéia impressionam, mas você acaba se envolvendo e avançando nos dias de disputas quodlibetais.

sábado, janeiro 20, 2007

Rural Willys em Desenvolvimento

Franderland é um advogado talentoso, casado, três filhos, um carro para cada e uma mansão no bairro mais nobre da cidade. Gaetano é professor de uma universidade federal, solteiro, e adora fazer estilo com seu colete de fotógrafo e sua Rural Willys 1968. Ele só sai com ela nos fins de semana, meio bêbado, depois das palavras cruzadas do caderno de amenidades de seu jornal preferido. Eles se conheceram subitamente, em um cruzamento.

Os familiares do advogado apareceram logo, cada um com seu carro, e ficaram aliviados quando viram que a Mercedes do papai, ao contrário da Rural, estava intacta. O professor Gaê ficou muito irritado com tamanha injustiça social:
- Seu almofadinha-pequeno-burguês-neoliberal-capitalista! Não sabe dirigir?! Provocou, abestado.
- Calma. O seguro vai pagar. Disse o abastado.

Gaê decidiu dar uma lição de moral naquela família alienada, e começou a se dirigir ao filho mais novo, que usava uma camisa com a estampa ”Kyoto Protocol”, só para parecer cult e pegar as meninas da faculdade.
- Rapaz, por que cada um sair com um carro? Você não sabe que a terra está entrando em colapso climático por causa da emissão de gases?
Foi quando Franderland resolveu que aquilo já estava passando dos limites:
- Sua Rural Willys emite mais gases do que todo metano entérico produzido pela flatulência do rebanho do país inteiro por hora! Antes de falar o que eu tenho que fazer na minha casa, faça na sua!

No mesmo dia a ONU contratou centenas de burocratas. E o professor foi fumar maconha com seus alunos para discutirem geopolítica e segurança energética, sob uma ótica marxista-leninista. Depois desse dia, teve gente que declinou do Protocolo de Kyoto para fazer coisa melhor, e o escritório de Fran começou a negociar créditos de carbono na bolsa de Chicago.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Escolho, logo existo.

São recorrentes, nos meandros do poder, os petulantes monopólios da sabedoria e da correção moral. Os déspotas se consideram juízes supremos, os tiranos usurpam o poder para tomar as rédeas da história. Onde há homens, haverá soberba. Foi pela liberdade que Robespierre prometeu “fundar o império da sabedoria, da justiça e da virtude”.

Uma vez levado ao timão pelos tripulantes, o líder visionário se alimenta de populismo e faz crescer seus tentáculos. De animador de auditório, torna-se um ditador intransigente. Negligencia a preservação da liberdade, da vida e dos bens, direcionando sua energia para o controle. Encampa a propriedade, censura o pensamento divergente e abandona aqueles que não o seguem, em nome de pretensas doutrinas. Sempre considera que carrega consigo a visão da perfectibilidade humana, do certo e do errado por decreto. “Pátria, socialismo ou morte”, é um de seus juramentos. Outro, é o de não mais deixar o poder.

Esse “socialismo do século XXI” é antiético. Pois, se a ética lida com possibilidades, com escolhas, o livre-arbítrio é sua gênese. O homem escolhe, logo existe. Sacrificar a escolha individual no altar da perfeição infalível é escolher um mundo onde a experiência moral perdeu o sentido*. Ecoam, na América Latina, os equívocos intelectuais de Marx e Lênin. Que não ecoem, novamente neste ano, na Vila Isabel nem na Marquês de Sapucaí.

* Eduardo Giannetti da Fonseca. Vícios Privados, Benefícios públicos?

terça-feira, janeiro 09, 2007

Incoerência

Ouvi, certa vez, em uma palestra sobre desenvolvimento econômico, uma passagem da interessante vida de John Maynard Keynes. Dizia que ele fora questionado, em um programa de rádio, sobre a incoerência entre o que havia escrito e as idéias que estava defendendo então. Para o que ele respondeu:“Quando estou errado, eu mudo. E você?”.

Sempre aparece um grupo de políticos, ou partido, que se intitula detentor da ética. Depois vemos eleitores choramingando suas decepções e buscando, ingênuos, consolação no novo baluarte da moral. E assim segue o rebanho, dia após dia, mais preocupado com coerência do que com a verdade.

Como é bela a incoerência de não persistir no erro.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Pequeno conto para o Dia de Reis

Escreve Plutarco a respeito de Alexandre:

"A Fortuna, que sempre lhe era benevolente, tornava-o firme em seus propósitos: a sua coragem, em todas as empresas, dava-lhe aquela obstinação invencível que não somente atua sobre os inimigos, mas até sobre os lugares e o tempo."

Assim era um menino que conheci. Predestinado a se tornar um grande líder. Era sensível e generoso com os demais, sua curiosidade apontava sempre para o caminho da verdade, e ao seu lado o dia passava voando. Era como se, tão jovem, já soubesse que tudo tem seu tempo.

Cresceu buscando os meios para marcar seu nome na história, tentando descobrir sua vocação e realizar uma obra de vulto. Mas seu coração encheu-se de vaidade. Andou orgulhoso entre os círculos de poder e ao seu redor aglomerou-se uma multidão de bajuladores. Traiu seus amigos por mesquinharias, brigou com seus irmãos pela herança de seu pai, perdeu-se muitas noites na luxúria e vangloriou-se da riqueza e do sucesso.

A vanglória não é glória, por isso as trevas caíram sobre seus ombros e a Fortuna o abandonou. Sete tempos passaram enquanto o jovem promissor foi expulso do meio dos homens, comeu feno como boi, e o seu corpo foi molhado com o orvalho do céu, de sorte que lhe cresceram os cabelos como as plumas das águias, e as suas unhas tornaram-se como as das aves*.

Fé e razão romperam seu desatino e ele sonhou com Nabucodonosor diante dos muros da Babilônia e com as palavras do Rei Salomão: sapiens filius laetificat patrem**. Acordou pensando nos três Reis Magos curvando-se diante de Maria, de José e do menino Jesus.

Então, apaixonou-se por uma mulher virtuosa. Homem feito, sua alma atendeu o chamado: a grande obra para a qual havia nascido era a sua família. Sua mulher tem o sorriso de uma rainha que conversa com os anjos, a sabedoria de seus filhos o alegra, seus irmãos dariam a vida por ele, e seus olhos possuem o brilho dos de um general que venceu mais de mil batalhas.

* Profecia de Daniel, Capítulo 04, versículo 30.
** Livro dos Provérbios, Capítulo 10, versículo 01.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

The Alamo (2004)

The Alamo (1960)

A seguir, cena do Old Alamo. E aqui, trailer do filme.

O Álamo

Na segurança pública reside a justificativa da existência do Estado. Oferecer qualidade em educação, saúde ou em qualquer serviço público, sem segurança, é como arrumar o quarto de um filho morto.

Incapaz de garantir paz e justiça, o Estado se torna inviável, pois a sociedade deixa de ter motivos para delegar o poder de preservação da vida. Quebra-se a legitimidade do monopólio da violência, cada indivíduo reassume seus deveres na medida de seus valores morais, e organizam-se as milícias.

Em face do estado de natureza ao qual retornamos no Rio e em São Paulo, a Polícia Federal já poderia começar um mutirão para autorizar o porte de armas de fogo, conforme previsto em lei, para que as mães continuem a arrumar o quarto de seus filhos, vivos. A esperança de que a classe média não acabará por criar suas milícias não está no Far West, mas no bang-bang.