quinta-feira, janeiro 04, 2007

Pequeno conto para o Dia de Reis

Escreve Plutarco a respeito de Alexandre:

"A Fortuna, que sempre lhe era benevolente, tornava-o firme em seus propósitos: a sua coragem, em todas as empresas, dava-lhe aquela obstinação invencível que não somente atua sobre os inimigos, mas até sobre os lugares e o tempo."

Assim era um menino que conheci. Predestinado a se tornar um grande líder. Era sensível e generoso com os demais, sua curiosidade apontava sempre para o caminho da verdade, e ao seu lado o dia passava voando. Era como se, tão jovem, já soubesse que tudo tem seu tempo.

Cresceu buscando os meios para marcar seu nome na história, tentando descobrir sua vocação e realizar uma obra de vulto. Mas seu coração encheu-se de vaidade. Andou orgulhoso entre os círculos de poder e ao seu redor aglomerou-se uma multidão de bajuladores. Traiu seus amigos por mesquinharias, brigou com seus irmãos pela herança de seu pai, perdeu-se muitas noites na luxúria e vangloriou-se da riqueza e do sucesso.

A vanglória não é glória, por isso as trevas caíram sobre seus ombros e a Fortuna o abandonou. Sete tempos passaram enquanto o jovem promissor foi expulso do meio dos homens, comeu feno como boi, e o seu corpo foi molhado com o orvalho do céu, de sorte que lhe cresceram os cabelos como as plumas das águias, e as suas unhas tornaram-se como as das aves*.

Fé e razão romperam seu desatino e ele sonhou com Nabucodonosor diante dos muros da Babilônia e com as palavras do Rei Salomão: sapiens filius laetificat patrem**. Acordou pensando nos três Reis Magos curvando-se diante de Maria, de José e do menino Jesus.

Então, apaixonou-se por uma mulher virtuosa. Homem feito, sua alma atendeu o chamado: a grande obra para a qual havia nascido era a sua família. Sua mulher tem o sorriso de uma rainha que conversa com os anjos, a sabedoria de seus filhos o alegra, seus irmãos dariam a vida por ele, e seus olhos possuem o brilho dos de um general que venceu mais de mil batalhas.

* Profecia de Daniel, Capítulo 04, versículo 30.
** Livro dos Provérbios, Capítulo 10, versículo 01.

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