sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Antonin Dvorak - Romance

Que mal faria Itzhak Perlman aos nossos ouvidos durante esses dias de carnaval?

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Um prado de açucenas

Já transcrevi um trecho de Salomé aqui, na versão de Oscar Wilde. Mas eu ainda não conhecia, e compartilho agora, as palavras irretocáveis de Eça de Queiroz sobre o mesmo tema:

"Maqueros, a mais altiva fortaleza da Ásia, erguia-se sobre pavorosos rochedos de basalto. As suas muralhas tinham cento e cinqüenta côvados de altura; as águias mal podiam chegar até onde subiam as suas torres. Por fora era toda negra e soturna; mas dentro resplandecia de marfins, de jaspes, de alabastros; e nos profundos tetos de cedro os largos broquéis de ouro suspensos faziam como as constelações de um céu de verão. No centro da montanha, num subterrâneo, viviam as duzentas éguas de Herodes, as mais belas da terra, brancas como o leite, com crinas negras como o ébano, alimentadas a bolos de mel, e tão ligeiras que podiam correr, sem lhes macular a pureza, por sobre um prado de açucenas. Depois, mais fundo ainda, num cárcere, jazia Iocanã - que a Igreja chama o Batista."

Está em A Relíquia.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

A perspectiva ética – parte 3/3

Resumo do capítulo de introdução do livro "Vícios Privados, Benefícios Públicos?", Eduardo Giannetti da Fonseca.

A história das idéias revela a existência de pelo menos três importantes correntes de pensamento filosófico econômico nas quais a explicação do hiato – da distância entre o que somos e o que aspiramos ser – é atribuída a fatores predominantemente morais e ligados à conduta individual.

A primeira delas é examinada e rejeitada no primeiro capítulo. Trata-se da tese do “neolítico moral”, segundo a qual os problemas têm origem na disparidade entre o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico, por um lado, e a falta de desenvolvimento moral, pelo outro. A segunda enfatiza a importância da moralidade cívica como fator de sobrevivência comunitária e do grau de coesão social. A terceira corrente procura mostrar o papel da moral no desempenho das economias nacionais.

O argumento central de Giannetti, segundo ele mesmo coloca, pode ser resumido em duas proposições básicas: 1) as regras do jogo e a qualidade dos jogadores são os dois elementos essenciais de qualquer sistema econômico; e 2) a qualidade dos jogadores – as variações de motivação e conduta na ação individual – afeta a natureza das regras do jogo e exerce, juntamente com elas, um papel decisivo no desempenho da economia. Se 1) e 2) podem ser aceitas, então a tese que se tornou dominante na teoria econômica do pós-guerra – a noção de que o auto-interesse dentro da lei basta, e as regras do jogo do mercado significam férias morais para os jogadores – deve ser rejeitada. A mão invisível de Adam Smith continua válida, mas a base comportamental adequada para que ela possa funcionar a contento precisa ser melhor compreendida. O paradoxo do egoísmo ético – “vícios privados, benefícios públicos” – cede lugar ao aforismo: virtudes privadas, benefícios públicos.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

A perspectiva ética – parte 2/3

Resumo do capítulo de introdução do livro "Vícios Privados, Benefícios Públicos?", Eduardo Giannetti da Fonseca.

No campo da economia normativa e da filosofia política, existem diversas estratégias alternativas de argumentação visando justificar racionalmente as noções de que uma dada sociedade: 1) não vive à altura de sua plena ou melhor capacidade (“hiato”); 2) é capaz de atingir por si mesma, mediante procedimentos logicamente consistentes e exeqüíveis, uma situação mais próxima do desejável (“receita”).

Alguns autores, como por exemplo os fisiocratas franceses e os neoliberais austríacos, atribuem basicamente a existência do hiato à disseminação e persistência de “erros intelectuais” que podem ser corrigidos mediante o debate e a persuasão. Outra vertente, diferente da primeira, acentua as “falhas sistêmicas” na base da organização econômica da sociedade e identifica receitas mais ou menos radicais para eliminá-las. Os marxistas, por exemplo, acreditavam que somente a abolição da propriedade privada dos meios de produção permitiria criar uma sociedade sem exploração. Os keynesianos, por sua vez, apontam para outro tipo de falha sistêmica na base da economia capitalista e propõem o uso da política fiscal e monetária para sustentar a demanda agregada e garantir o pleno emprego. Uma terceira estratégia, desenvolvida pelos adeptos da teoria da escolha pública, busca explicar o hiato como resultado do “conflito de interesses” no processo decisório democrático.

No caso dos “erros intelectuais” os descaminhos da sociedade moderna são atribuídos a preconceitos, falsas idéias, superstições e crenças promulgadas por intelectuais equivocados. As “falhas sistêmicas” e o “conflito de interesses” enfocam o sistema como um todo ou certas instituições impessoais, sem criticar a ética e a conduta individual. Embora essas estratégias adotem como premissa um intervalo remediável entre o que é e o que deve ser, nenhuma atribui a fatores de ordem moral a relevância devida no diagnóstico do hiato ou na receita adequada para sua redução.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

A perspectiva ética – parte 1/3

Resumo do capítulo de introdução do livro "Vícios Privados, Benefícios Públicos?", Eduardo Giannetti da Fonseca.

A ética lida com aquilo que pode ser diferente do que é. Em contraste com a ótica estritamente científica dos fenômenos, dentro da qual apenas o que acontece é possível, o ponto de vista moral abre uma brecha para a possibilidade de que o mundo como ele é esteja aquém do mundo como ele pode e deve ser. A abordagem ética parte da crença na existência de uma fissura separando a realidade humana do potencial humano. E qualquer ato simples de escolha ultrapassa a esfera de competência do pensamento científico.

Falar em ética é falar em escolha individual. E falar em escolha humana é falar na nossa inescapável falibilidade no pensar e agir. Ética, liberdade de escolha e falibilidade são conceitos ligados de modo inextrincável.