quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Um prado de açucenas

Já transcrevi um trecho de Salomé aqui, na versão de Oscar Wilde. Mas eu ainda não conhecia, e compartilho agora, as palavras irretocáveis de Eça de Queiroz sobre o mesmo tema:

"Maqueros, a mais altiva fortaleza da Ásia, erguia-se sobre pavorosos rochedos de basalto. As suas muralhas tinham cento e cinqüenta côvados de altura; as águias mal podiam chegar até onde subiam as suas torres. Por fora era toda negra e soturna; mas dentro resplandecia de marfins, de jaspes, de alabastros; e nos profundos tetos de cedro os largos broquéis de ouro suspensos faziam como as constelações de um céu de verão. No centro da montanha, num subterrâneo, viviam as duzentas éguas de Herodes, as mais belas da terra, brancas como o leite, com crinas negras como o ébano, alimentadas a bolos de mel, e tão ligeiras que podiam correr, sem lhes macular a pureza, por sobre um prado de açucenas. Depois, mais fundo ainda, num cárcere, jazia Iocanã - que a Igreja chama o Batista."

Está em A Relíquia.

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