sábado, setembro 23, 2006

Princípios Constitucionais


Você e eu não devemos sonhar com um presidente, governador ou prefeito que seja capaz de inspirar nossos espíritos cívicos pelo seu carisma. O Executivo está a cargo do serviço público, regido pelo princípio da impessoalidade. Serviço não é mando, e impessoalidade não é carisma. Precisamos de executivos que sejam capazes de administrar de forma eficiente, com a humildade inerente ao ato de servir, os escassos recursos da nação. E que sejam, ao menos, capazes de prezar pelo princípio constitucional da moralidade. Está equivocado aquele que atribui a responsabilidade de um herói ao poder público.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Não volta à boca a palavra pronunciada


Não volta à boca a palavra pronunciada. Risca no ar sua trajetória em forma de arco, e cai como uma flecha lancinante no peito de quem de direito.

Bento XVI sabe o que disse, de sua terra natal para o mundo, e disse com a propriedade de quem carrega a pesada história da espada do Cristianismo. Todos esperam mais uma atitude política de conciliação, a ser celebrada em uma grande festa ecumênica, onde o conflito seja esquecido e o impasse seja evitado. Mas não é dos conflitos que surgem os debates, e nos debates que o pensamento evolui? Não é nos impasses que os paradigmas são quebrados? O problema é que estamos acostumados com os lugares comuns, com o eterno e infalível caminho do meio, com a mesma resposta superficial para todas as questões. Não paramos para refletir sobre os princípios e não queremos debatê-los. Nada vale o gosto amargo de uma discussão atravessada na garganta. No entanto, a falta de compromisso com princípios nos submete à imposição da vontade alheia.

Quero interpretar o discurso de Sua Santidade, com seu exemplo bizantino, como um apelo aos povos do ocidente que observam apáticos o diálogo perdendo espaço para a imposição violenta da vontade. Não matarás.

sexta-feira, setembro 15, 2006

El Condor Pasa

Diplomacia não é organizar recepções para autoridades internacionais, com aquelas afetações de nossa cultura "criativa" de samba, futebol e mulher bonita. Quando não há o que se dizer de alguém, de um povo, ou de uma cultura, diz-se que é criativa. Um pleonasmo que serve justamente para dizer nada.

A Diplomacia deve defender o interesse soberano, que é a soma de nossos interesses de brasileiros e acionistas da Petrobras. O poder soberano não é transferido aos trapalhões do Estado. O Governo é apenas nosso fiel depositário, e somente enquanto for capaz de garantir nossa segurança e a defesa de nossos interesses.

Os Estados estão, entre si, em estado de natureza. Não existe juiz ao qual apelar. Os conflitos não se evitam, e se adiados, trazem desvatagem. Hoje ouvi uma frase sensata: "paciência tem limite". Qual é?

sexta-feira, setembro 08, 2006

A Social Demagogia

Tenho lido muito sobre uma suposta "lacuna ideológica", sobre a necessidade de uma nova fronteira política. A quase zen-budista terceira via já recosta sôfrega, sob pancadas de jovens franceses desempregados, como o entardecer melancólico de um último dia em Paris. Para nós, filhos bastardos de Camões e primos sonolentos de Cervantes, o horizonte é o velho populismo, em traje de Social Demagogia.

Evitando explicar este fenômeno latino-americano a partir da economia, o que seria condescender com certa dose de materialismo histórico, creio que tudo está na força do carisma de legitimar o poder. Não há justificativa para o voto no líder carismático, trata-se de um ato de fé geral, sem distinção de qualquer tipo de classe. Se, combinado com o carisma, há reeleição, uso da máquina pública, massas de manobra e desinformação, temos gigantes clássicos do populismo, Golias. Cadê os Davis?

domingo, setembro 03, 2006

Dias de Platão em Caracas

A República, Livro VIII: como a Democracia se degenera em Tirania.

"Sócrates - Quando o protetor do povo, encontrando-o inteiramente submisso (...) o arrasta à barra dos tribunais e o faz perecer em suplícios; quando ele próprio (...) mata uns, desterra outros, propondo depois à multidão a abolição das dívidas e nova distribuição das terras, não se lhe torna, então, inevitável como uma lei do destino perecer às mãos de seus inimigos ou tornar-se tirano?
Adimanto - Inevitável, sem dúvida.
Sócrates - Ei-lo, pois, em guerra aberta com os opulentos e afazendados (...) E se, expulso da cidade, a ela retorna apesar de seus inimigos, não é certo que volta com todo o aparato de tirano consumado? É então que, se os ricos não conseguem expulsá-lo ou fazê-lo condenar à morte, armam-lhe ciladas para lhe tirar secretamente a vida pela violência.
Adimanto - Isso sempre acontece.
Sócrates - É então que se dá o caso de recorrer à famosa petição em que um ambicioso, reduzido a tais extremos, pede ao povo uma escolha a fim de garantir a segurança pessoal do protetor do Estado. (...) E povo lhe dá o que pede, temendo pela segurança do protetor e mui seguro de si mesmo."

Estava escrita, há milênios, a história recente da Venezuela de Chávez.
Espero que Platão não venha passear no Brasil.