domingo, setembro 03, 2006

Dias de Platão em Caracas

A República, Livro VIII: como a Democracia se degenera em Tirania.

"Sócrates - Quando o protetor do povo, encontrando-o inteiramente submisso (...) o arrasta à barra dos tribunais e o faz perecer em suplícios; quando ele próprio (...) mata uns, desterra outros, propondo depois à multidão a abolição das dívidas e nova distribuição das terras, não se lhe torna, então, inevitável como uma lei do destino perecer às mãos de seus inimigos ou tornar-se tirano?
Adimanto - Inevitável, sem dúvida.
Sócrates - Ei-lo, pois, em guerra aberta com os opulentos e afazendados (...) E se, expulso da cidade, a ela retorna apesar de seus inimigos, não é certo que volta com todo o aparato de tirano consumado? É então que, se os ricos não conseguem expulsá-lo ou fazê-lo condenar à morte, armam-lhe ciladas para lhe tirar secretamente a vida pela violência.
Adimanto - Isso sempre acontece.
Sócrates - É então que se dá o caso de recorrer à famosa petição em que um ambicioso, reduzido a tais extremos, pede ao povo uma escolha a fim de garantir a segurança pessoal do protetor do Estado. (...) E povo lhe dá o que pede, temendo pela segurança do protetor e mui seguro de si mesmo."

Estava escrita, há milênios, a história recente da Venezuela de Chávez.
Espero que Platão não venha passear no Brasil.

2 comentários:

Anônimo disse...

Acho que temos aqui uma condição um pouco diferente, meu caro...
Não acredito que nosso protetor esteja em posição antagônica às grandes elites e, portanto, não precisa temê-las.
E o seu povo anda com a visão anuveada pelo seu passado operário, identificando-se com seu inocente líder. Assim, ele tampouco teme o povo.
Seus adversários são somente aqueles poucos que querem o poder de volta, pelos motivos mesquinhos de sempre.
O perigo da tirania, desta vez, não vem pela solução para um confronto entre povo e elite. Mas sim pela conclusão de que ninguém tem o direito de atravessar o caminho do líder unânime.

Gabriel Filártiga disse...

Grande Rato,

a situação é, de fato, diferente. Mas poderia ter sido parecida. Que reação assistiríamos se o impeachment tivesse avançado? A recente proposta brasileira de Assembléia de "Notáveis" foi bem similar ao contra-golpe de Chávez. Uma verdadeira ameaça anti-democrática.

E o que dizer dos planos de "integração" da América Latina? Vejo claramente uma ameaça à minha liberdade pela frente. Saímos da Social Democracia e caímos na Social Demagogia. Minha visão é de que precisamos de mais Liberalismo e de menos unanimidade.

Abraço,

Gabriel.