terça-feira, maio 29, 2007

Idéias têm conseqüências

Esse texto do Sr. Wallerstein, como era de se esperar, tenta fazer uma interpretação marxista das relações internacionais americanas, desde 1873. Ele procura explicar o processo histórico como uma resultante do conflito entre as forças produtivas, pautado exclusivamente pelo interesse econômico. A tentativa fracassa, porque o resumo de um século em doze páginas de materialismo histórico acaba tornando o texto nada mais que um panfleto ideológico, recheado de anti-americanismo. Eric Hobsbawm, outro historiador marxista, ao menos dedicou um livro inteiro ao assunto.

Max Weber e eu discordamos que a economia move a história per se, como queria Marx. Weber demonstrou, por exemplo, o surgimento do capitalismo a partir do protestantismo ascético. Eu, infelizmente, ainda não demonstrei coisa alguma, mas suspeito que as guerras, inclusive a Fria, não foram exclusivamente grandes buscas por mercados. Há poder, política, valores, religiões, em resumo, há idéias envolvidas. E "idéias têm conseqüências".

domingo, maio 20, 2007

O Novo Institucionalismo em Debate

O Novo Institucionalismo é um programa de pesquisa que tem como objetivo estudar a natureza das instituições e suas implicações para a sociedade, para investigar as causas das diferenças entre os desempenhos de diversas economias. Seus teóricos buscam desenvolver um modelo de análise econômica, política e social, cuja premissa é adotar as instituições como variáveis explicativas do desenvolvimento econômico e do processo histórico.

Apesar da motivação comum, não se trata de uma corrente de pensamento unificada. Hall & Taylor apresentam três escolas de pensamento: institucionalismo histórico, institucionalismo da escolha racional e institucionalismo sociológico. Os institucionalistas históricos não consideram as instituições como o único fator de influência na vida política. As instituições fazem parte de uma cadeia de causas e efeitos que leva em consideração outros fatores, como a difusão de idéias e o desenvolvimento sócio-econômico. Os seguidores do institucionalismo da escolha racional ressaltam a importância dos direitos de propriedade e dos custos de transação para o desenvolvimento econômico, partindo do pressuposto que os indivíduos se comportam de modo utilitário na maximização de suas preferências. As instituições reduzem as incertezas, estabelecendo uma estrutura estável para a interação dos agentes que reduz os custos de transação, influenciando o desempenho econômico. Por fim, os institucionalistas sociológicos tendem a definir as instituições de maneira ampla, incluindo não só as regras, procedimentos e normas, mas também os símbolos, esquemas cognitivos e modelos morais que guiam a ação humana, estabelecendo uma relação sistêmica entre indivíduos e instituições, na qual os atores utilizam os modelos institucionais disponíveis, ao mesmo tempo em que os confeccionam.

Os principais críticos do Novo Institucionalismo alegam que seus autores falham na tentativa de endogeneizar totalmente as instituições no modelo de desenvolvimento econômico. Argumentam que o modelo neoclássico apresenta quatro categorias de variáveis exógenas (preferências, tecnologias, dotações e regras), e não três; e que o programa contém ambigüidades quando tenta explicitar como as instituições respondem às mudanças dos parâmetros exógenos. As críticas questionam a adoção das instituições como ponto de partida das mudanças no processo histórico, apresentando padrões de desenvolvimento moldados pelo ambiente dado exogenamente, tais como aqueles relacionados à geografia. Outra indagação relevante dos críticos reside no entendimento do comportamento humano, ao observarem que a obediência às regras não pode ser explicada exclusivamente por meio de princípios utilitaristas.

O Novo Institucionalismo avança no estudo da importância das instituições para os aspectos econômicos e políticos em uma sociedade, agregando as contribuições dos críticos, debatendo sobre o comportamento humano e destacando a relevância das instituições no processo histórico. A meu ver, ao introduzir o conceito de incerteza nas premissas neoclássicas a respeito do comportamento humano, como fez Douglass North, por exemplo, o institucionalismo da escolha racional admite que os indivíduos agem com base em modelos subjetivos da realidade, de forma que seu comportamento é mais complexo do que a simples maximização de utilidade. Ao adotar outros fatores, além das instituições, como determinantes dos processos políticos e econômicos, os autores do institucionalismo histórico admitem que o desenvolvimento econômico não é conseqüência exclusiva da evolução institucional. Ao estabelecer uma relação sistêmica entre instituições e outras variáveis, incluindo aquelas relativas ao campo da cultura, o institucionalismo sociológico abandona o raciocínio linear de causa e efeito entre as instituições e o desenvolvimento econômico, admitindo círculos de feedback entre as diversas variáveis do modelo.

sábado, maio 12, 2007

A Escola de Atenas

Platão ou Aristóteles? Deixa pra lá, vamos suspender o juízo... Como vai o mengão?

Richard Popkin, na História do Ceticismo de Erasmo a Spinoza, escreve sobre duas concepções de ceticismo: acadêmico e pirrônico. Nascido na Academia grega (300 a.C.), o primeiro defendia que nada se pode conhecer. O segundo, com referências a Pirro de Élis (360 a 275 a.C.), voltou ao debate com a tradução dos textos de Sexto Empírico, no século XVI. Sua pretensão é opor diferentes dogmas em julgamento, até que seja necessária a suspensão do juízo. Seus seguidores alegam que o ceticismo acadêmico é tão dogmático quanto qualquer outra filosofia, porque não coloca em dúvida seus próprios argumentos.

É muito raro, mas de vez em quando aparece um suposto filósofo, por igual supostamente cético. Em geral, bem menos investigatório que nos idos parágrafos, precipitado na suspensão do debate, descompromissado com a ética, enquanto prefere não escolher. Quando o Papa Bento XVI defende sacramentos e virtudes cristãs em seus discursos, o iluminado cético da atualidade fica apavorado com a “dureza” de suas palavras, espera que a Igreja seja mais “flexível” e ridiculariza seus dogmas “arcaicos” religiosos. Esquece ele, entretanto, que a filosofia também é um conflito de crenças e dogmas, que escoram e movem o mundo. Se todos virarem céticos, o mundo pára e desaba.