sábado, dezembro 09, 2006

O neo-socialismo

A essa altura de dezembro, acho que já posso classificar esse como o pior artigo do ano. Cada parágrafo merece uma refutação, mas vou me ater apenas aos pontos que considero dissimulados, porque também eu já fui vítima desse estelionato cultural. E vou economizar nas aspas, apenas por um capricho estético. Se você já leu o artigo, vamos adiante.

Não acho certo fazer parecer que a esquerda latino-americana possui uma grande diversidade de idéias e tendências enquanto, na verdade, ela se resume à "luta contra o imperialismo neoliberal globalizante". A diversidade está na liberdade de expressão, no pensamento não dogmático, na valorização do debate aberto. O que não me parece ser uma descrição desse novo socialismo.

E não é porque os novos socialistas foram eleitos democraticamente, que a liberdade política vai se tornar um valor. Hitler chegou ao poder através de um processo democrático. Acontece que a democracia é uma conquista, que precisa ser defendida e aprimorada. E não existe um nível tal de maturidade que garanta sua permanência. Ela é frágil e dependente, pois não suporta pressões intervencionistas e necessita do respaldo da liberdade individual, como valor. Ela não sobrevive ao socialismo, seja novo ou velho.

Por isso, é capcioso classificar as ditaduras latino-americanas como de direita, assim como acreditar que vivemos uma década de governos neoliberais. Fosse isto verdade, estaríamos mais para o Chile, Nova Zelândia e Irlanda, do que para Venezuela, Bolívia e Haiti.

Finalmente, volto aos conceitos. Populismo não é um jargão. É o abuso da dominação pelo carisma, quando sobrepuja as instituições e quebra contratos, estabelecendo uma relação direta com o povo, convertido em massa de manobra.

Apesar de o artigo ter provocado meu espírito liberal, o autor é até bastante compreensivo:

“É perfeitamente compreensível que alguns não gostem do que está acontecendo.”

Eu não gosto do que está acontecendo.

2 comentários:

Guga Schultze disse...

Esses articulistas, vários, que falam nas "ditaduras de direita" precisam saber: não existe ditadura de direita. Direita é, resumidamente: liberdade e democracia. Ponto. Há poucos anos (tá bem, décadas) a esquerda vem tentando usar, como suas, essas duas palavras. Olha aqui: não consta no vocabulário oficial e nunca constou. Outra coisa: são palavras muito perigosas, maiores do que ela (esquerda) consegue perceber. Se infiltram nas suas fileiras, gerando essa confusão toda entre os partidários que já estão confusos nos seus princípios. O exercício da liberdade, por mínimo que seja, é fatal para rigidez de princípios. Última coisa: a direita não tem princípios, assim como nenhuma dessas duas palavrinhas é um.

Guga Schultze disse...

Eu ia escrever "há muito tempo que.." e escrevi "há poucos anos", ficando essa construção esquisita. Sorry. Mas o sentido é o mesmo. Também queria acrescentar que não sou exatamente um fã da democracia mas, dos males, o menor. Democracia só funciona bem entre pessoas de, digamos, um nível cultural semelhante. É um longo caminho. Agora, liberdade, é essencial.