terça-feira, agosto 22, 2006

Aux grands hommes, la patrie reconnaissante


Pedi ao garçom duas taças de Bordeaux no Café Pantheón, para contemplar o cair da noite com minha mulher, ainda mais linda em Paris e no início da gravidez. À esquerda, a torre Eiffel começava a acender, distante. Do outro lado da rua, a fachada da Universidade de Sorbonne: Liberté, Égalité, Fraternité. À direita, o Pantheón de Paris, que me retirou do estado de graça para mais uma chata e inócua reflexão pretensamente sociológica.

Reparei que as letras douradas sobre as colunas coríntias do edifício neoclássico se ordenavam em um admirável epitáfio. Estão enterrados ali Voltaire, Rousseau, Victor Hugo, Marie Curie, entre outros grandes nomes reconhecidos pela sua pátria através desta vultosa obra arquitetônica. Não havendo educação melhor que o exemplo, me senti inspirado para ser um grande homem. Brindamos e nos beijamos, Daniele e eu.

Hoje penso como seria difícil erguer um Panteão no Brasil. Pelo investimento também, mas sobretudo pela carência de nomes a serem enterrados. Ele seria construído, antes de qualquer esforço criativo, na Cinelândia, no Rio, seria superfaturado e ninguém acabaria preso por causa disso. A escolha fúnebre se daria em um programa de TV, através de votos via telefone e internet. Todos os escolhidos para o enterro seriam ídolos populares do esporte nacional.

A meu ver, só temos um nome: Machado de Assis. O que você acha?

10 comentários:

Anônimo disse...

Sua sensibilidade me encanta cada dia mais!
VF

Anônimo disse...

sugiro Oswaldo Cruz.

Anônimo disse...

Olhando por outro ângulo, eu vejo que o Planeta Terra foi dividido e subdividido em milhares de pedacinhos.Mas todos os homens não habitam o mesmo planeta? Essa seleção de nomes não seria então muito mais ampla? Se vc considerar então nossa galáxia a escolha ficaria bem mais difícil.....e por aí vai....tendendo ao infinito.....será que eu viajei um pouco?
bjs
SF

Gabriel Filártiga disse...

VF, um beijo e obrigado.

Diego, gostei da sugestão. Já temos dois grandes homens.

Alexandre, é um Panteão, um memorial, e não um cemitério público.

SF, mesmo que o universo (estatístico) fosse o Universo (de fato), ainda haveria homens melhores, uns que os outros. Honra ao mérito!

Vou deixar esse post render mais alguns comentários, e volto a escrever em seguida.

Abraços,

Gabriel.

Marcos Matamoros disse...

Gabriel,
É uma escolha difícil mesmo. Daria para colocar outros escritores, a depender do gosto de cada um (Drummond, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos?), mas e os homens públicos? Seria difícil achar uma meia dúzia de três ou quatro
PS: Eu gostei muito do seu blog - já coloquei um link no meu, não sei se você viu. Você tem algum e-mail de contato?
Um abraço,
Marcos

Anônimo disse...

sugiro Oscar Niemeyer.

Gabriel Filártiga disse...

Pessoal,

confesso que o resultado foi melhor que o esperado. Machado de Assis, Oswaldo Cruz, Drummond, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Oscar Niemeyer.

Me sugeriram, outro dia, Santos Dummond, com a ressalva de que poderiam alegar que seu lugar é em Paris.

Marcos, me sopraram um bom nome político, a Águia de Haia: Rui Barbosa. Que tal?

Abraços,

Gabriel.

Marcos Matamoros disse...

Gabriel,
Eu não sei se o Rui Barbosa é um bom nome, por não saber qual foi exatamente o papel dele como ministro da Fazenda. Houve inflação alta quando ele estava no cargo, mas não sei se foi culpa dele. Para isso, me falta conhecimento histórico.
Quem acho que não pode entrar de jeito nenhum é o Oscar Niemeyer. Além de considerar sua arquitetura kitsch, eu não colocaria no panteão alguém que é fã de Stálin e Fidel Castro. Mas ele talvez seja um bom nome para fazer o projeto do prédio, já que pelo menos os mortos não vão reclamar que o lugar é inabitável. Ou será que vão?
Um abraço,
Marcos

Gabriel Filártiga disse...

Marcos,

me parece que houve uma crise de liqüidez global, e o Rui Barbosa fez o que achou necessário. Foi melhor diplomata e jurista do que Ministro da Fazenda, é claro. Mas o que eu gosto mesmo é do apelido "Águia de Haia".

O comunismo anacrônico do Niemeyer é mesmo irritante, já passou para a etapa do cinismo. Vai ficar de fora de qualquer jeito, afinal o velhinho ainda não morreu.

Abraço,

Gabriel.

Anônimo disse...

E uma pena q sua restriçào cultural vire uma barreira para alguém tão "senssível". Se vc só consegue citar Machado de Assis, ou vc é um limitado ou é mais um tipinho Diogo Mainarde que merece ser enterrado, nao no panteão, mas enterrado vivo. No Brasil existem milhares de nomes q mereciam ser enterrados em um panteão, E com mais honra oo mérito q muitos q estão no panteão, ultilizemos os já citados por vc mesmo: Rousseau que nem frances era (coisa q no Brasil nao aconteceria) abandonou 5 filhos. Como falar de carrater q vc mesmo defende necessario? Para completar falemos de Volter um irônico inconpreendido, interesseiro e parasita, convenhamos a ironia não é o forte dos franceses!