Em sua investigação a respeito da Democracia na América, Tocqueville argumenta que as verdadeiras causas da liberdade da democracia americana são suas boas leis e, mais ainda, seus hábitos, costumes e crenças. O autor observa que a constituição federativa, o sistema bicameral e a instituição da presidência contribuem para o êxito da organização política nos Estados Unidos. Ele destaca, ainda, a importância da pluralidade partidária e da liberdade de imprensa em um processo político caracterizado mais pela disputa de interesses do que por convicções ideológicas, e reconhece um espírito cívico, legalista e associativo, por meio do qual os indivíduos estabelecem suas relações. Esse espírito está fundamentado nos costumes e crenças daquele povo, cujo fator decisivo é a religião. Conforme destaca Raymond Aron, Tocqueville conclui que “a sociedade americana soube unir o espírito de religião ao espírito de liberdade”.
Diante da consolidação democrática, Tocqueville tentava compreender as causas da força da liberdade na sociedade americana, e da sua fraqueza na França do século XVIII. Seu ponto de partida em O Antigo Regime e a Revolução reside nas constatações de que a destruição da aristocracia era inevitável, e de que sem ela o despotismo encontraria menos resistência e os vícios humanos seriam exacerbados. Para Tocqueville, os homens de uma sociedade sem exemplo aristocrático “tendem a cuidar apenas de seus interesses particulares, a não verem mais que a si próprios e a retraírem-se num individualismo estreito onde toda virtude cívica se desvanece”. Trata-se de uma sociedade instável, sem vínculos de classe, casta, corporação ou família, na qual todos vivem o temor de descer e a ânsia de subir constantemente. Para Tocqueville, os indivíduos se revoltam com a percepção de grandes diferenças injustificáveis relativas à mobilidade social, e não apenas pela miserabilidade.
O aristocrata fracês identificou que Revolução Francesa emergiu da destruição das instituições do Antigo Regime: a nobreza se encontrava isolada; o poder estava concentrado em Paris, extinguindo as liberdades provinciais; a vida política estava extinta. Nesse contexto, na ausência de instituições livres, de corpos políticos vivos e partidos organizados, a Revolução foi conduzida menos pelos fatos particulares que segundo “princípios abstratos e teorias gerais” dos filósofos. Um movimento preparado pelos intelectuais e executado pela massa inculta e rude, cuja força motriz foi o conflito entre duas paixões: igualdade e liberdade.