Ode à mediocridade, honra ao mérito
Aristóteles (Estagiros, 384 a.C.- 322 a.C.) escreve sobre a "virtude do justo meio" no livro III, d'A Política: "A vida feliz consiste no livre exercício da virtude, e a virtude na mediania; segue-se necessariamente daí que a melhor vida deve ser a vida média, encerrada nos limites de uma abastança que todos possam conseguir."
Falta no discurso político brasileiro uma meta clara, uma visão para o país. Precisamos tornar concreto o que desejamos ser como brasileiros médios. Os americanos desenvolveram esta idéia, e criaram um produto que resume uma missão, desdobra uma visão, operacionaliza uma estratégia de forma direta: o sonho americano. Uma família, uma casa no subúrbio, um carro, um emprego e, quem sabe, um cachorro. A opinião pública americana se posiciona a favor de políticos, leis e guerras somente na medida que estejam alinhados a este brilhante objetivo central.
Se analisarmos todas as pessoas do mundo por suas alturas, será alta a probabilidade de obtermos uma distribuição normal. Do mesmo modo, se analisarmos pelo grau de merecimento em relação a qualquer coisa, será reduzido o número de pessoas que merece muito mais, ou que merece muito menos. Precisamente, 99,7% estarão entre mais ou menos 3 desvios padrões da média.
Observe que mirar na média não é uma retórica pela igualdade. Ao contrário do que nos fizeram crer até então, é pela liberdade que caminhamos até a justiça. Existe uma pequena diferença entre merecimento e mérito. Um é potencial, o outro é efetivo. Uma sociedade livre e justa é aquela que dá maior aderência entre o merecimento potencial e o mérito efetivo. Nesta sociedade, em que cada um tem o que merece, a igualdade é uma suave conseqüência da liberdade, em uma curva em forma de sino. Justiça é honra ao mérito.