“Durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum, capaz de manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição chamada guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens.”
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“Em tal situação não há lugar para indústria, pois o seu fruto é incerto, e conseqüentemente, não há cultivo da terra, nem navegação, nem uso das mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há construções confortáveis, nem instrumentos para mover e remover as coisas que precisam de grande força; não há conhecimento da face da terra; nem cômputo do tempo; nem artes; nem letras; nem sociedade; e o que é pior do que tudo, há um constante temor e perigo de morte violenta. A vida do homem é solitária, miserável, sórdida, selvagem e curta.”
Muito pouco muda se comparamos estas conhecidas passagens de Thomas Hobbes (Inglaterra, 1588-1679), do capítulo XIII do Leviatã, com o cotidiano de pessoas que vivem em lugares onde não há respeito pela liberdade alheia, como é o meu caso. Vivemos a era dos
direitos: humanos, das mulheres, da criança, do adolescente, dos idosos, dos animais, dos presidiários, dos criminosos. Ora, nossos direitos são inatos, não precisam de declarações. Tudo não passa de uma insistente projeção de responsabilidades que não deixa espaço para os
deveres. Quando abrimos mão de parte da nossa liberdade para convivermos, assumimos responsabilidades, deveres, contratos. O “poder comum” espalha-se em todas as direções, mas é incapaz de mediar estes contratos, gerando incerteza, violência e temor. Já não creio no Estado, minha opção é exercitar a lei do Evangelho “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Para meu coração de pedra, e para a dureza da vida em sociedade, cabe a versão de Hobbes: “Faz aos outros o que queres que façam a ti.”