terça-feira, novembro 28, 2006

Corrente Literária

Marcos Matamoros tem um sobrenome e tanto. Além do mais, ele me passou um desafio que recebeu de outro amigo, provavelmente porque acha que sou mais literato do que realmente sou. Portanto, eis três escritores que desisti de ler:

Senhora, de José de Alencar, foi o livro do qual desisti mais rápido. Até porque, por ser fino, qualquer suspiro seguido de determinação concluiria o trabalho. Apesar de ter sido uma decisão jovem e imatura, a trilogia indianista ainda não tem a menor chance comigo.

Umberto Eco também não me agradou. Me pareceu perdido entre arte e filosofia, literatura e semiótica. Abandonei os Seis passeios pelos bosques da ficção na primeira curva. O Nome da Rosa ficou pela metade. E o que é pior: gostei do filme.

O terceiro não faz prosa. Eu até li A Era dos extremos, o breve século XX, do Eric Hobsbawm, mas os outros séculos ficarão para trás mesmo. Já até escrevi sobre meus motivos aqui.

Valeu Matamoros?

segunda-feira, novembro 27, 2006

Mateus, capítulo 7, versículos 28 e 29.

"Aconteceu que, tendo Jesus acabado este discurso, estavam as multidões admiradas da sua doutrina, porque os ensinava como quem tinha autoridade, e não como os escribas e os fariseus".
As palavras têm asas, somente a autoridade do exemplo é incontroversa. Conhecer a vida dos autores de grandes clássicos da filosofia traduziu suas entrelinhas, revelou a medida de seus cinismos, e me fez reconhecer que ética e estética são duas faces da mesma moeda. Porque nossos valores devem tomar forma e contorno em nossa biografia.

sexta-feira, novembro 24, 2006

quinta-feira, novembro 23, 2006

"Por favor, a minha parte em dinheiro"

Em recente artigo publicado no Financial Times, Sir Michael Barber avalia que em todos os países desenvolvidos as pessoas querem usufruir de melhores serviços públicos, pagando menos impostos. Por isto, os governos enfrentam o imperativo desafio do ganho de produtividade.

O que me intrigou, na primeira leitura, foi a restrição aos países desenvolvidos. Não seria aquela uma assertiva para qualquer país? Parece que não. Brasileiros, por exemplo, não fazem da produtividade do setor público um imperativo, como sempre fica claro nas urnas. O tema da eficiência não tem apelo eleitoral por aqui. Preferimos nossa parte em dinheiro.

domingo, novembro 19, 2006

Revolução silenciosa

O comunicado final da Quarta Semana Social Brasileira, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reforça, pela culatra, a laicidade do Estado como princípio. O documento do seminário contém o pacote completo: trabalho de formação das bases, anulação do leilão da CVRD, auditoria da dívida externa (?), democracia direta, economia planificada, terra, etc.

A última proposta foi declarada de uma forma inexeqüível: "dar atenção a todo tipo de novos atores sociais que vão surgindo". Se são novos, é porque estão surgindo. Se atuam, existem. Fazem parte de nossa sociedade e são, portanto, sociais. Se a atenção deve ser dada "a todo tipo", entendo que todos devem ser monitorados, um por um. Trabalho para Hércules, já que o ecumenismo também está na ordem do dia. Escorregadas lingüísticas assim me fazem lembrar de um cartaz empunhado pelo PSOL com a frase "pela mudança, sempre". Como assim? E se estiver bom, também muda?

Apesar da forma, o conteúdo é massificado e está ficando perigoso.

sábado, novembro 18, 2006

Amenidades? Oscar Wilde

Ele não estaria no caderno de amenidades de um jornal do século XIX.

Oscar Wilde, by Monty Python:

- OSCAR: ' Your Majesty is like a dose of clap .'
- JAMES: ' Before you arrive is pleasure. And after, it’s a pain in the dark.'

***

Do verdadeiro Wilde, trecho de Salomé:

- SALOMÉ: '(...) a mim, a mim... Tu nunca viste. Se me houvesses visto, haver-me-ias amado. Eu, eu te vi, Iokanan, e te amei. Ah! Como te amei! Ainda te amo, Iokanan. Só amo a ti... Tenho sede da tua beleza. Tenho fome do teu corpo. E nem o vinho, nem as frutas podem saciar o meu desejo. Que farei agora, Iokanan? Nem os rios, nem as grandes águas poderiam apagar a minha paixão. Era princesa, tu me desdenhaste. Era virgem, tu me defloraste. Era casta, tu me encheste as veias de fogo... Ah! Ah! Por que não me olhaste, Iokanan? Se me houvesses olhado, haver-me-ias amado. Sei muito bem que me haverias amado, e o mistério do amor é maior do que o mistério da morte. Só para o amor se deve olhar.'

quinta-feira, novembro 16, 2006

Salomé e Herodes

Os partidos coligados não possuem qualquer constrangimento para cobrar pelos votos que consideram seus. Como Salomés dançando em troca de cabeças em badejas de prata.

E os partidos vencedores são como reis desabando em suas cadeiras. Na versão de Oscar Wilde, Salomé tem um fim trágico:

***
HERODES, desabando na cadeira
Ah! Por que dei a palavra? Os reis nunca devem dar a palavra. Se não a cumprem, é terrível. Se a cumprem, é por igual terrível.

***
Os soldados avançam e esmagam, sob os escudos, Salomé, filha de Herodíade, princesa da Judéia

sábado, novembro 11, 2006

Amenidades: Lenda Celta

Cauã era um grande garoto, com notas boas na escola e bom de pelada, mas sempre quis ter um nome mais comum. Um dia pediu outra coisa:
- Mãe, me leva ao Theatro Municipal? Vai rolar “A Cavalgada das Valquírias”, de Wagner. Não quero perder.
A mãe piscou quatro vezes. Ali surgiu seu tique nervoso. Foi falar com o pai.
- Psiu, o menino quer ver uma peça no teatro.
O pai soltou uma interjeição incomum, amassando o caderno de esportes, e perguntou com a boca mole:
- Quê?
- Ele quer assistir ao Wagner, no teatro.
O pai era daqueles que chutam sobre qualquer assunto:
- He, he, he. É Wagner Amadeus Mozart, minha filha. Aquele pianista que ficou surdo. Ou cego. Hi, hi, essa propaganda é muito boa. Que q’eu tava falando mesmo? Opa, x’eu fazer uma coisa que ninguém pode fazer por mim.
Levantou-se e começou a andar em direção ao banheiro. O pai também era daqueles que possuem raciocínios divergentes simultâneos.
Falou baixinho, apertando o passo:
- Se eu não levar esse moleque num puteiro ele vai virar veado.
Cauã continuou a baixar música erudita na internet, enquanto reclamava com uma irlandesa gatinha no MSN que andava meio tristão.

quinta-feira, novembro 09, 2006

All great things are simple

A Era dos Extremos, de Eric Hobsbawm, está em quase todas as bibliografias de cursos de História, Relações Internacionais, Economia, Ciência Política, ou onde quer que se refiram a Karl Marx como o "velho Marx". Logo no primeiro capítulo ele cai no materialismo histórico, dizendo que, em 1914, certamente não era a ideologia que dividia os beligerantes, e que o embate entre a democracia britânica e o absolutismo alemão, "ou coisas assim", tratava-se meramente da necessária mobilização da opinião pública. E, como não poderia deixar de ser, acaba citando Standard Oil, Deutsche Bank e De Beers.

Eu acho o seguinte: